No ano passado (seria Abril?) fui comprar muitas plantas para preencher a minha varanda.
Por alguma razão - reparei - muitas pessoas, como eu, encheram de plantas as varandas, as casas, as salas durante a pandemia.
Talvez tenhamos necessidade de confirmar que a vida, no seu sentido mais profundo e lato, continua. Apesar de tudo, a vida continua.
Na loja, a moça alertou-me, a Buganvília é chata e faz muito lixo.
E eu, que sempre achei que não tinha jeitinho nenhum para plantas - a chamada "mão verde" -, insisti e trouxe várias plantas diferentes, terra (apesar de só terem no momento terra ácida) e a Buganvília de pétalas rosa escuro.
Observei-a. Vinha mal acondicionada. Mudei-a de vaso, mudei-lhe a terra, aceitando o risco de que a acidez alteraria provavelmente a cor das pétalas.
Passaram umas semanas e todas as pétalas caíram. Uma voz interna continuava a dizer-me: se calhar não tenho mesmo jeitinho nenhum para isto. Mas mantive-me atenta à Buganvília.
Passou o Inverno. Cuidei dela protegendo-a das maiores chuvas. Troquei-a várias vezes de canto. Sobretudo, observei-a. E ao chegar a primavera vi os novos rebentos de flor. Não eram cor-de-rosa. Eram de um vermelho vivo, escarlate. Um vermelho luminoso.
Não cheguei a falar com ela.
Dizem que é muito bom falar com as plantas. Eu não falo com a minha Buganvília, mas ela acabou de falar comigo e disse-me claramente: já viste o que resulta do teu cuidado e persistência?!
E ainda me segredou que quem determina se eu tenho ou não jeito para o que quer que seja, sou eu.
Por isso, declaro que a minha Buganvília é a coisa mais bonita do mundo.
*Artista
(A autora escreve segundo a antiga ortografia)