Miguel GuedesUm Governo em "modo de voo" No terramoto político de ontem em Portugal, Pedro Nuno Santos marcou-se como seguro. Só uma visão muito ingénua da política pode admitir que o processo de decisão sobre a construção de um novo aeroporto (ou de dois, no caso em concreto), já amplamente debatida com autarquias, com a ANA e outras entidades, anunciada pelo próprio ministro em "prime time" televisivo, possa ter sido omitido a António Costa e a outros membros do Governo. É muito difícil acreditar no acto de contrição do ministro das Infraestruturas quando tudo soa a tacticismo e sobrevivência. O desconforto é evidente.
Miguel GuedesUma primeira vez na ColômbiaNa Colômbia, uma primeira vez é quase uma revolução. Uma primeira vez na Colômbia - país joguete, permanentemente assolado por interesses múltiplos durante décadas, onde a paz social sempre foi uma miragem, devastada por violência e morte, narcotráfico e guerrilhas, golpes de Estado efectivos e sempre anunciados como pendências ao virar da esquina, pobreza, corrupção em todas as instâncias de poder - não é uma primeira vez qualquer. Implica uma mudança sistémica, um contragolpe na instabilidade, uma tentativa real de fazer algo novo, tentando abstrair do cansaço. Uma aspiração colectiva urgente, esperança-produto, a emergir democraticamente de uma eleição.
Miguel GuedesCrónica de uma ruptura anunciada Os sucessivos governos de António Costa têm carregado o SNS como bandeira mas, nos últimos anos, foi a luta contra a covid que a agitou. A extraordinária resposta do SNS à pandemia criou, graças ao esforço e resiliência de todos os profissionais de saúde, uma ilusão de robustez, suficiência de meios e bom funcionamento global das instituições. Sem estabilidade na contratação e progressão nas carreiras, com o aumento dos profissionais tarefeiros sem vínculo e mais bem remunerados, com equipas mais pequenas e envelhecidas, sem autonomia, com a problemática da formação, horas extra e do cansaço acumulado sem incentivos de espécie alguma, assistimos a 2500 médicos e enfermeiros a abandonarem o SNS em 2020 e 2021.
Miguel GuedesA orfandade histórica do PSD O reaparecimento mediático de Cavaco Silva em dose dupla, texto e entrevista televisiva, reforçou todas as controvérsias que não permitem ao PSD assumir o conforto de nenhum legado histórico dos seus líderes desde Sá Carneiro. É evidente que lideranças como as de Francisco Balsemão e Mota Pinto são absolutamente relevantes, até tendo em conta o percurso histórico e a inquestionável dimensão pessoal de ambos. Mas o drama adensa-se quando o PSD procura referências para apresentar ao país, e só encontra Cavaco Silva-Passos Coelho como cartões de visita e Durão Barroso-Santana Lopes como cartas de rejeição. Líderes que proclamaram oásis em pleno défice ou que foram para além da troika, líderes que abandonaram o barco para utilizar portas giratórias sem período de nojo ou que fundaram partidos concorrentes no mesmo espaço político.
Miguel GuedesEntre uma crise e uma não existência Há quem pretenda fulanizar a saída do município do Porto da ANMP, rotulando-a como um capricho e não como uma decisão democrática da Câmara do Porto, caucionada por uma deliberação positiva da AM da cidade que, no campo da percepção, colhe como acertada em boa parte dos portuenses. A democracia a funcionar parece ser um incómodo mas, na realidade, nada prende um município à ANMP senão a História e a ilusão de que 308 vozes juntas deveriam falar mais alto e melhor do que vozes soltas ou desgarradas. Infelizmente, a tez de importância que a ANMP teve, desde a sua criação, tem vindo a desvanecer-se e é, agora, rosa-pálida, lendo o futuro nas folhas do chá.
Miguel GuedesMais um sábado no PSD A meio da semana e se fosse escrita para vender, a expressão ganharia contornos de "best-seller" enquanto delata desejos. Tantas vezes, para nada se fazer.
Miguel GuedesFaltam 69 dias para a SupertaçaEm futebol, como em quase todos os desportos colectivos, é muito fácil ir do 8 ao 80. A beleza do jogo passa também por aí, pelo sortilégio que suplanta a certeza, ultrapassando-a pela esquerda sem falta para vermelho, a sorte e o azar, as dinâmicas que todos tentam explicar, mas que nunca fazem ciência sobre a matéria em que se suporta o profundo êxito ou a maior das calamidades.
Miguel GuedesOs números que ninguém sabe Os exercícios de adivinhação sucedem-se. Se há momento evidente em que os números de infecções com covid não só não são exactos, como estão muitíssimo abaixo da realidade, é este.
Miguel GuedesFebre de domingo à tardeEsgotados os ângulos de análise sobre o extraordinário 30.º título nacional do F. C. Porto, centremo-nos em alguns pormenores e no futuro bem próximo. Os detalhes que sobram da última jornada no Dragão e os dias que se contam para a disputa da "dobradinha" são o sal que ainda tempera o que resta da época portista.
Miguel GuedesAbortar o critérioO aborto não é um crime, uma doença ou um vício. A ideia de que o critério de ausência da interrupção voluntária da gravidez poderia servir para calcular a componente remuneratória variável dos profissionais das Unidades de Saúde Familiar (USF) não lembra a ninguém que tenha a noção de que o aborto é um direito e um acto de vontade última da mulher.
Miguel GuedesEm Z, a "desnazificar" Hitler Na próxima segunda-feira, 9 de Maio, a Praça Vermelha desfilará em Z. Ao contrário do que Vladimir Putin previra, o "Dia da Vitória" que assinala o triunfo das forças soviéticas sobre a Alemanha Nazi em 1945, não anunciará a capitulação da Ucrânia à sua "operação militar especial".
Miguel GuedesSó a "dobradinha" salva a épocaNunca mais é sábado. Contam-se os dias para o clássico da Luz que pode atribuir o título de campeão nacional.
Miguel GuedesA juventude de Balsemão O apoio de Francisco Pinto Balsemão a Jorge Moreira da Silva não é uma simples carta de recomendação aos militantes para as próximas eleições internas no partido. O antigo primeiro-ministro, fundador e militante "número 1" do PSD, ao contrário do que fez no passado recente com o apoio a Rui Rio, não se limita à teoria e passa à prática. Ao aceitar ser o mandatário nacional da candidatura de Jorge Moreira da Silva, Balsemão dá o braço ao candidato para fazer caminho, deixa a marca e o aviso à navegação: não será sem renovação que o PSD responderá ao país e poderá recuperar o eleitorado que perdeu ao centro e à sua direita.
Miguel GuedesPontos arrancados a veneno Mandam as regras. Qualquer subtracção que cause dor, requer algum tipo de anestesia. Assim devia ser e, verdade seja dita, momentos houve em que o F. C. Porto foi letárgico. Mais lento, mais previsível, sem acerto no último passe e a definir mal em momentos importantes. Algo que já tinha aportado, em moldes diferentes, na 1.ª parte frente ao Sporting.
Miguel GuedesEngolir sapos, agora em francêsPode discutir-se o tamanho do sapo e discorrer sobre a capacidade de um organismo tão vivo, plural e histórico como a Esquerda francesa, conseguir acomodar um bicho que, contranatura, permitiria que se alojasse no seu interior mais cinco anos ao ter sido tacticamente deglutido por si em segundas núpcias.
Miguel Guedes7-0, agora a sério Fazer algo que já havia sido feito esta época, mas agora a sério. O que aconteceu no Jamor com a Belenenses SAD - entrar com 9 (dois deles guarda-redes) e acabar com 7 no campo e no resultado - foi regulamentar, mas também a face sem vergonha dos interesses instalados e dos regulamentos aprovados... pelos clubes.
Miguel GuedesBater com a porta entreaberta A ameaça de saída do município do Porto da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), anunciada por Rui Moreira num arremesso de impaciência, é uma lufada de ar quente num ambiente que há muito não prima pela frescura. Somam-se anos disto, bafio por companhia e mofo como sinónimo.
Miguel GuedesUm recorde que um inglês viuAlguns olhavam para Guimarães como a derradeira hipótese de manter acesa a luta pelo título. A boa notícia para esses é que estavam enganados. A má notícia é que, no F. C. Porto, ninguém encomenda faixas ou reserva rotundas antes do tempo.
Miguel GuedesO tapete rosa e um massacre O regresso à política tem ementa. O Programa do Governo (PG), uma primeira moção de rejeição pela extrema-direita e o Orçamento de Estado (OE) a apresentar na próxima semana, ainda antes da Páscoa.
Miguel GuedesPepê, com acento e sem máscaraQuando Pepê chegou ao F. C. Porto vindo de uma realidade única no Grémio, talvez agradecesse uma máscara, elemento distintivo.
Miguel GuedesO poder nuclear de Marcelo O fim tem dois limites. O que poderia ter sido apenas mais uma formal tomada de posse de um Governo transformou-se num aviso à navegação de António Costa e no alerta, lançado por Belém, que tenta contrariar o seu aparente apagamento político num ciclo de quatro anos de maioria absoluta do PS.
Miguel GuedesPolítica para um Governo só O que quer António Costa da política? Um Governo político para governar... sozinho. Neste aparente contra-senso, António Costa gere os seus equilíbrios internos às claras, fazendo a montra socialista para o país e anunciando o que se sabe: a sucessão, inevitável, pode acontecer quando menos se espera. Todos os sucessores estão a seu lado.
Miguel Guedes55 jogos sem derrotasNão perder há 55 jogos é histórico. Mas apesar dos últimos anos demostrarem que o F. C. Porto de Sérgio Conceição não tropeça no dérbi do Bessa, nem a História nem as estatísticas podiam fazer o que quer que fosse por uma equipa que jogava o seu terceiro jogo em oito dias, tendo passado por uma viagem adiada e atribulada no regresso de Lyon, não descansando nem preparando o jogo convenientemente, perdendo Taremi em cima da hora ao acusar covid e ficando sem Pepê, um dos seus jogadores mais influentes e desequilibradores, por lesão aos 25 minutos de jogo.
Miguel GuedesA matrioska de Putin O primeiro momento de fraqueza de um agressor não se vislumbra sem que se sinta verdadeiramente acossado. Isolado pela comunidade internacional, onde apenas quatro países nas Nações Unidas (Bielorrússia, Coreia do Norte, Eritreia e Síria) se colocaram a seu lado. Castigado por sanções económicas sem precedentes à escala mundial que fazem ruir a já débil prosperidade económica do país. Enganado pelos seus serviços secretos que, dizendo-lhe o que queria ouvir, o convenceram de que a invasão da Ucrânia seria uma operação cirúrgica de dias e que em duas semanas tomaria Kiev, tombando o poder de Volodymyr Zelensky.
Miguel GuedesO tempo não pode esperar, só a ChinaO estado de negação é um lugar de refúgio das vítimas, incapazes de se protegerem da verdade senão pela recusa, mais ou menos inconsciente, de a aceitar.